A vida no picadeiro cotidiano

Cada dia que passa, vejo que somos membros de uma trupe que não para nunca, tentamos a todo tempo fazer feliz a quem nos vê no dia a dia.

Mas assim como o não tão velho ditado diz; “o palhaço também quer rir”.

E é aí que as coisas podem tomar um rumo não muito agradável, somos uma pequenina peça na engrenagem que serve pra fazer a do lado girar, e quando paramos a do lado para e assim por diante.

Quem já assistiu ao espetáculo Cirque du Soleil, sabe que a cada ato bem executado, nos surpreendemos, e vem outro e nos surpreendemos ainda mais, e é isso que traz a grandeza do famoso circo. Não há um foco único, o que há é uma união de beleza e glamour que faz do conjunto da obra algo ainda mais fabuloso.

Agora tente fazer um espetáculo com apenas malabaristas, ou até só trapezistas, não duvido que gere entretenimento, mas em pouco tempo uma sensação de mesmice se instala e há o momento em que é crucial para a boa fluidez a mudança. E é ela quem faz o espetáculo ainda mais luminoso.

Não é a grandeza de um único ato que faz o evento bom ou ruim, mas a união de todos os fatores, se não dessa forma, tudo não passou de mero entretenimento.

Sangria.

Some a dificuldade de adaptação a um ambiente subitamente inserido, uma educação conturbada e tentativas frustradas de demonstração de afeto.

Aposto que assim como eu, acredito que quem lê a primeira frase, tem de repeti-la algumas vezes para mensurar a amplitude da situação.

Mas não duvido do entendimento da mesma, só suplico ajuda aos que achem ela natural, pois existe alguém que até hoje não consegue entender como o efervescer de todos esses componentes pode resultar em um individuo que se mantém sóbrio ao mundo que insiste em lhe residir.

Sou a folha que nasce da rachadura na parede, torto, sem direção, mas não duvide da força que minhas raízes podem ter.

Feridas e reparos ao passar das luzes, sangue quase todo renovado devido aos cortes, mas com certeza mais forte ao levantar.

Quando algo se opõe ao que naturalmente deveria ser feito, esse algo deixa de existir ou é destruído.