05/01/2011

Ele morre...

Quando o Rei Lear morre no ato 5, sabe o que Shakespeare escreveu? Ele escreveu “Ele morre”. Só isso. Nada mais. Sem fanfarras, sem metáforas, sem palavras finais brilhantes. O ponto culminante da mais influente obra da literatura dramática é “Ele morre”. Foi preciso Shakespeare, um gênio, para escrever “ele morre”. E sempre que leio essas palavras, sou tomado por um desassossego. Sei que é natural ficar triste. Mas não pelas palavras “ele morre”, mas pela vida que vimos antes dessas palavras.

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Por mais que eu lembrasse essa história, e de como ela terminava, juro que não lembrava que o fim dela era e “ele morre”, veemente afirmava que era “e ele se foi”, mas como sempre Shakespeare me surpreende e me mostra a linha correta de seu pensamento. Não posso simplesmente ir, devo morrer.

Morrer para que outra flor seja plantada e para que outra história comece é necessário que uma termine. Mesmo sem sua permissão meu coração nutriu esperanças pretensiosas de um futuro duvidoso e improvável, mas fiz isso inconscientemente, peço-lhe perdão e fecho o livro para que uma nova história seja escrita em uma nova pagina.

Não tente apagar a anterior, só vire a pagina e siga escrevendo, pois ao tentar apagar esta, geraria borrões que jamais sairiam, e por mais linda que fosse a nova história, o leitor sempre iria tentar imaginar o que tinha sido escrito por baixo.

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